segunda-feira, 30 de maio de 2011

Histórico e Curiosidades

As discussões sobre os novos rumos da Cartografia e o desenvolvimento de novas tecnologias culminaram em um 1991, numa nova definição de Cartografia pela Associação Cartográfica Internacional, na qual ela passou a ser considerada como a disciplina que trata da concepção, produção, disseminação e estudo de mapas. De forma muito sucinta, esta definição coloca a Cartografia como uma disciplina. A mesma que foi definida no início do século XX como ciência e arte, nos anos noventa não é mais ciência e nem arte; é uma disciplina.

No entanto, a mudança de definições não provocou alterações significativas no modo de pensar dos cartógrafos. Os dualismos ainda persistem, principalmente quanto arte e ciência, ciência e técnica, e revela diferenças que formam opiniões diversas. Entre as várias definições destacamos as seguintes: Fritsch (1990) define como a ciência e a técnica de representações de dados espaciais, incluindo as instruções de como utilizar tais representações cada vez mais transformadas espacialmente, considerando-se os sistemas de informações geográficas. Para Joly (1990), é a arte de conceber, de levantar, de redigir e de divulgar os mapas.

Segundo Taylor (1994), é a disciplina que trata da organização, apresentação, comunicação e utilização da geo-informação nas formas gráfica, digital ou tátil incluindo todos os processos, desde o tratamento dos dados até o uso final na criação de mapas e produtos relacionados com a informação espacial. É interessante observar que apesar dos autores apresentados pertencerem a um mesmo momento histórico de desenvolvimento da Cartografia, apresentaram definições totalmente diferenciadas.

Entre os autores brasileiros, destacamos duas definições: Barbosa (1967), que define a Cartografia como uma área auxiliar para as ciências e Sanchez (1981), como uma ciência entre as ciências e ao mesmo tempo, um instrumento das ciências que direta, ou indiretamente, se preocupam com distribuições espaciais.

As concepções apresentadas sobre a definição de Cartografia retratam sobretudo posturas teóricas e metodológicas diferentes. Verificamos ao longo do tempo - principalmente nos últimos anos sob a influência de novos recursos tecnológicos - que o conceito passou a considerar a possibilidade de elaboração dos mapas e de outros documentos cartográficos, não somente na forma analógica, mas também digital. Isto deu origem à utilização de uma nova linguagem como computação gráfica, cartografia automatizada ou cartografia digital.

No entanto, os princípios básicos da Cartografia permanecem válidos e a sua divisão em dois campos - sistemática e temática, continua valendo. O quadro 1 apresenta outras terminologias adotadas por diferentes autores para caracterizar os mapas nestes dois campos.


O campo da cartografia sistemática é bem definido pois por razões históricas, constitui-se segundo Rosa (1996), na ciência responsável pela representação genérica da superfície tridimensional da Terra no plano.

Utiliza convenções e escalas padrão, contemplando à execução dos mapeamentos básicos que buscam o equilíbrio da representação altimétrica e planimétrica dos acidentes naturais e culturais, visando a melhor percepção das feições gerais da superfície representada. Sua preocupação central está na localização precisa dos fatos, na implantação e manutenção das redes de apoio geodésico, na execução dos recobrimentos aerofotogramétricos e na elaboração e atualização dos mapeamentos básicos. Seus mapas podem ser classificados nas três categorias a seguir:

1) Escala grande - mapas urbanos em 1:500, 1:1.000, 1:2.000 e 1:5.000;

2) Escala média - mapas topográficos em 1: 25.000, 1:50.000, 1:100.000 e 1:250.000;

3) Escala pequena - mapas geográficos em escalas 1:500.000 e menores.

De acordo com as normas da legislação cartográfica em vigor, estabelecidos no decreto-lei n.º 243/67, que regulamenta as Diretrizes e Bases da Cartografia e da Política Cartográfica Nacional, a cartografia sistemática tem por fim a representação do espaço territorial brasileiro por meio de cartas, elaboradas seletiva e progressivamente, consoante prioridades conjunturais, segundo os padrões cartográficos terrestre, náutico e aeronáutico.

A discussão sobre a definição e o campo da cartografia temática é relativamente longa e teve início por volta dos anos trinta. Quanto à terminologia, o assunto é polêmico, pois o que é tema para um determinado campo do conhecimento científico, pode não ser para outro. Além disso, os procedimentos de levantamento, redação e comunicação também são diferentes, bem como a formação e especialização dos cartógrafos.

A cartografia temática aborda a Cartografia como um instrumento de expressão dos resultados adquiridos pela Geografia e pelas demais ciências que têm necessidade de se expressar na forma gráfica. Rosa (1996) ressalta que a cartografia temática tem como preocupação básica a elaboração e o uso dos mapeamentos temáticos, abrangendo a coleta, a análise, a interpretação e a representação das informações sobre uma carta base. Importa-se mais com o conteúdo que vai ser representado no mapa do que com a precisão dos contornos ou da rede de paralelos e meridianos.

Os temas analíticos podem ser obtidos por correlação entre vários temas elementares ou entre séries estatísticas. São representados a partir da utilização da técnica mais conveniente, objetivando a melhor visualização, incluindo, além de mapas, outras formas de representação como gráficos, blocos diagramas e croquis.

Sobre a caracterização destes dois campos da Cartografia contemporânea, podemos destacar outros autores como Raisz (1969) por exemplo, que classificou os mapas em gerais e especiais. Os primeiros seriam exclusivamente de representação da superfície da Terra, com os acidentes geográficos, planimétricos e topográficos, independentemente da escala.

Os mapas especiais seriam os políticos, urbanos, de comunicações científicas, econômicos, artísticos, de propaganda, de navegação aérea e marítima e os mapas cadastrais. Robinson apud Barbosa (1967), subdividiu a Cartografia em dois ramos: a que elabora mapas topográficos de grandes escalas, a partir de levantamentos topográficos e a que elabora os mapas de compilação derivados dos mapas topográficos. Nesta última categoria incluiu os mapas de climas, agrícolas, circulação, população, tráfego, políticos e outros. Porém, tanto Raisz quanto Robinson classificaram, no primeiro grupo, os mapas que representam somente os aspectos concretos da paisagem e, no segundo grupo, os mapas que representam as demais informações, ou seja, as temáticas.

Segundo Barbosa (1967), os mapas com os mais variados temas são chamados de mapas temáticos. Ele sugere até uma nova divisão dos campos da cartografia temática, devido às várias terminologias e classificações dos produtos. Comenta que os mapas de clima, cartas náuticas e cartas oceanográficas, mapas turísticos, de comunicações, geológicos, de cobertura vegetal, morfológicos, econômicos, entre outros, são chamados de mapas especiais ou temáticos. Mas, salienta que raramente é encontrada a expressão temática para as cartas aeronáuticas, de previsão do tempo, náuticas e turísticas. Para estas, considerou que a terminologia mais adequada, seria mesmo a de mapas especiais.

Mesmo considerando essa diferença básica entre os dois campos da Cartografia, Sanchez (1981) afirmou ser impossível estabelecer uma linha divisória entre a cartografia sistemática e a temática pois, em muitos casos, as diferenças são sutis. Existem áreas de interpretações nas quais a superposição de mapas temáticos e mapas de base são inevitáveis.


Na tentativa de caracterizar a cartografia temática diferenciando-a da sistemática, baseado em Sanchez (1981).
Dependendo da situação, um mapa pode ser classificado como temático ou sistemático. Entretanto, Joly (1990) elucida esta questão ao afirmar que se convencionou internacionalmente, adotar o termo cartografia temática para designar todos os mapas que tratam de outro assunto além da simples representação do terreno.

Rosa (1996) ressalta que em qualquer um dos campos da Cartografia, a coleta, o registro, a análise e a edição dos dados em formato gráfico são operações tradicionais e rotineiras. Embora haja uma estreita dependência da cartografia temática em relação à sistemática - uma vez que esta fornece a base para todos os tipos de mapas, há uma grande diferença quanto aos métodos utilizados, que sofreram alterações profundas com o advento das novas tecnologias.

Atualmente, mesmo considerando que a cartografia temática está muito mais ligada à Geografia do que a cartografia sistemática, e que não é exclusiva da Geografia, ela é reconhecida como a Cartografia da Geografia, como escreveu Lacoste (1988). Ele deixou claro que não é possível relacionar à Geografia a elaboração de cada um dos diferentes tipos de mapas resultantes de pesquisas realizadas por geólogos, botânicos e climatólogos entre outros. Por outro lado, ressaltou que se considerarmos conjuntamente os diferentes tipos de mapas temáticos que representam um mesmo território, parece legítimo, considerá-los como objetos geográficos.

Neste trabalho, Lacoste levanta a seguinte questão sobre os mapas:

Por que é necessário procurar considerar conjuntamente as representações espaciais estabelecidas pelas diferentes disciplinas científicas?

E responde, enfatizando a relação da Geografia com a Cartografia :

Porque a ação, seja ela do tipo econômico ou militar por exemplo, não se aplica, na realidade, sobre um espaço abstrato cuja diferenciação resulta da análise de uma só disciplina, mas sobre um território concreto cuja diversidade e complexidade só podem ser extraídas por uma visão global.

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